A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável que todos nós experienciamos em algum ponto das nossas vidas.
Como a dor irá afetar-nos e às nossas vidas, já isso é individual, único e complexo, pois como a dor afecta a nossa vida é influenciado por vários fatores, como o físico, psicológico, social, emocional e espiritual.
Porque sentimos dor
A dor é uma estratégia adaptativa que nos alerta quando estamos em perigo. Após uma lesão ou acidente, o corpo pode entrar num estado que é commumente chamado de modo de “luta ou fuga”. Quando entra nesse estado, o corpo liberta os produtos químicos do stress, adrenalina e cortisol. Esses produtos químicos do stress têm o objectivo de comunicar ao cérebro que estamos em perigo e que é necessária uma ação. É a forma do corpo comunicar com o cérebro que está em perigo e/ou ferido e que é necessário ser feito algo. Várias partes do cérebro estão envolvidas no processamento dessa informação e é influenciada em combinação com outros fatores (crenças, ambiente, contexto, emoções e/ou experiências anteriores activa noutros sistemas como o sistema nervoso simpático e o sistema endócrino) e decide a partir de todas essas entradas como vai reagir. Se o cérebro determina que há perigo, ele decide a melhor forma de tentar proteger os nossos tecidos e o nosso corpo. Eventualmente, quando já estivermos seguras novamente, ou seja, após recebermos tratamento adequado, este modo de luta ou fuga destina-se a “desligar” e, assim, parar de produzir hormonas de stress.
No entanto, nem toda a dor é assim tão simples, e é quando começamos a ver surgir os aspectos da dor crónica/persistente. Com a dor persistente ou crónica, a dor durou mais do que o tempo de cura esperado, o que resulta em alterações no sistema nervoso versus o dano tecidual contínuo.
A dor crónica
O sistema nervoso tem a capacidade de mudar e está em constante mudança e evolução, o que é chamado de neuroplasticidade. Os nossos nervos e cérebro aprendem o que praticam e podem por isso também “aprender a dor”: quanto mais tempo tens dor, mais enraizada essa aprendizagem se torna.
Em pessoas que desenvolvem dor crónica e persistente, os produtos químicos do stress geralmente não param de ser produzidos e o modo de “lutar ou fugir” continua.
Isto quer dizer que a dor pode persistir mesmo que a lesão inicial tenha tido tempo de cicatrizar ou a inflamação tenha diminuído.
Isto acontece porque ocorrem alterações no sistema nervoso e na espinal medula, tornando-se excessivamente sensíveis, o que leva ao envio de mais sinais de perigo.
Isso causa um problema para o corpo porque essas hormonas devem ser ativados apenas por pequenos períodos de tempo para produzir uma resposta física.
Quando uma pessoa vive continuamente no modo “lutar ou fugir” como resultado de uma lesão dolorosa, o cérebro está a ser informado de que a pessoa ainda não está segura. O cérebro agora está em receber informações defeituosas com sinais de perigo cada vez mais fortes e tem uma resposta aumentada e, portanto, o nosso “sistema de dor” pode tornar-se super-protetor e super-reativo. Isso significa que o cérebro ainda vê a lesão como a precisar de atenção e continua a amplificar a dor.
Por isso, mesmo após uma cirurgia para se tirar os focos da endometriose, a dor pode permanecer.
A dor persistente pode levar também a alterações noutros sistemas do nosso corpo, como o sistema nervoso simpático e parassimpático, endócrino, imunológico e motor.
Os produtos químicos de stress contínuo que estão a ser libertados fazem com que haja aumento persistente da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, respiração mais superficial, problemas digestivos e tensão muscular. O teu corpo não se consegue curar quando o teu sistema nervoso está assim tão sensibilizado, pois lidar com essa “ameaça” percebida é a primeira prioridade do teu corpo.
Quando o teu corpo está a libertar hormonas de stress, isso faz com que fiques “no limite” porque o teu cérebro está a perceber que há uma ameaça potencial à tua segurança. Isso significa que o teu cérebro está constantemente à procura de uma ameaça e, portanto, permanece stressado. A mente começa a preocupar-se e a perceber o perigo em eventos que normalmente seriam irracionais ou improváveis de perceber perigos ou ameaças.
Por exemplo, o movimento normal pode tornar-se stressante, pois agora considera-lo extremamente doloroso. Podes por isso tornares-te mais isolada e inactiva. Isso pode fazer com que te sintas sem esperança, com raiva e/ou triste porque estás a viver num estado de dor e ansiedade persistentes, sem alívio dos sintomas.
Re-treinar o sistema de dor
O que a neuroplasticidade do cérebro torna possível por outro lado, é o “re-treinar” do sistema da dor (o cérebro, a espinal medula e o sistema nervoso) para se tornar menos sensível e voltar a um ambiente protetor mais normal. Esse “re-treinamento” pode resultar em menos dor e diminuir o impacto que a dor crónica pode ter noutros sistemas e funções do nosso corpo (sono, movimento, stress e humor e/ou emoções).
Por isso é tão importante nesta altura cuidarmos também do nosso lado emocional e psicológico e trabalhar nas nossas emoções, traumas e bloqueios. É primordial cuidarmos ao máximo do nosso bem-estar emocional para reduzir todo o stress que também está a ser enviado ao nosso cérebro através das nossas vivências e experiências mal resolvidas que nos inquietam e também elas nos trazem stress e ansiedade.
Como acabar com o ciclo de dor?
A liberação de endorfinas no teu corpo é vista como uma maneira vital de quebrar o “ciclo” da dor crónica. As endorfinas têm um efeito inibidor do cortisol e da adrenalina, pois interrompem a transmissão dos sinais de dor. As endorfinas são libertadas no teu corpo como resultado de actividades como rir e exercícios aeróbicos. A sua libertação coloca o teu corpo e mente num estado mais relaxado e feliz, permitindo que o teu cérebro se sinta seguro e não perceba mais o perigo ou ameaça.
Terapias cognitivo-comportamentais, de gestão emocional (como a EFT), técnicas de mente-corpo ou estratégias de atenção plena e meditação também são uma boa maneira de ajudar na persistência da dor. Essas terapias ajudam a alterar os padrões de pensamento negativos e pessimistas que criam mais ansiedade e reações depressivas. Ao mudar esses padrões de pensamento para pensamentos mais positivos e construtivos, tens a capacidade de ajudar a controlar a produção de substâncias químicas do stress e acalmar o sistema nervoso sensibilizado.
A fisioterapia também pode ajudar a corrigir o desalinhamento do corpo e reduzir a inflamação.
Outras opções são ainda: aconselhamento psicológico, medicamentos (se apropriado), gestão de actividades diárias de acordo com os teus níveis de dor e energia, hábitos saudáveis de sono, ter uma rede de apoio com que falares, ter uma alimentação funcional e anti-inflamatória
A nossa sociedade ainda tende a ver o corpo e a mente como duas entidades separadas. No entanto, todo o nosso corpo está interconectado e extremamente dependente e influenciado pelo estado de funcionamento de outros sistemas do corpo. Quando o teu corpo está em estado de dor constante, vai afectar as tuas emoções, sono, cognição, vida social e tantas mais áreas da tua vida.
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