Existem opções alternativas aos tratamentos da medicina convencional que podem ser usadas juntamente com os tratamentos convencionais. A melatonina é uma dessas opções alternativas muito promissora para a endometriose.
A melatonina é conhecida por ser um auxiliar do sono, mas essa hormona não é útil apenas para as insónias. Pesquisas emergentes sugerem que a acção antioxidante da melatonina é útil também para o refluxo ácido, zumbido no ouvido e a dor pélvica causada pela endometriose.
A melatonina é uma hormona produzido pela glândula pineal quando não há luz a atingir o olho, portanto, durante a noite. É ainda um poderoso antioxidante, agente anti-inflamatório e demonstrou proteger vários tipos de cancro.
Os níveis de melatonina diminuem naturalmente com a idade, mas o que se vê hoje em dia é que muitas pessoas produzem menos melatonina do que o normal devido ao grande número de horas de olhar para a televisão ou para dispositivos como o telemóvel à noite. Assim, a melatonina tem sido suplementada com segurança há décadas, principalmente para dormir, com muito poucos efeitos colaterais.
Melatonina e Endometriose
Descobriu-se que a melatonina tem efeitos benéficos quando aplicada diretamente no tecido endometrial. Investigadores recolheram amostras de tecido endometrial normal de mulheres sem e com endometriose endometriose e estudaram o que aconteceu quando aplicaram melatonina nessas células.
Descobriram que a melatonina bloqueou o crescimento, a migração (o que permite que o tecido endometrial “se espalhe”) e a invasão (o que permite que o tecido endometrial “crie raízes” noutro lugar), estimulado pelo estrogénio, tanto do tecido endometrial normal quanto do tecido endometrial fora do útero.
Em outras palavras, a melatonina bloqueou o “efeito de crescimento” do estrogénio e permitiu que o tecido endometrial ficasse sem se espalhar.
Essa descoberta ganhou suporte com alguns ensaios com ratos, que mostraram que o tratamento com melatonina começou a diminuir o tamanho do tecido endometrial que foi implantado cirurgicamente.
Os resultados da melatonina também foram melhores do que os resultados obtidos ao tratar os ratos com letrozol (um inibidor da aromatase que reduz o estrogénio). A melatonina causou mais regressão do tecido endometrial e também reduziu mais a taxa de recorrência após a interrupção do tratamento em comparação com o inibidor de aromatase. Este estudo usou uma dose muito alta de melatonina (no entanto, os investigadores determinaram que era ainda segura nesta dose).
Com todos os estudos positivos em ratos, a melatonina foi testada em humanos em 2013 onde foi administrado 10 mg de melatonina a 40 mulheres com endometriose todas as noites durante dois meses, sendo os resultados:
- Reduziu a pontuação diária de dor em 39,8%
- Reduziu a menstruação com dor em 38,01%
- Melhorou qualidade do sono
- Reduziu a necessidade de analgésicos em 80%
Como tomar melatonina
A melatonina é normalmente tomada em doses entre 0,3 e 10 mg algumas horas antes de dormir. O horário da melatonina é importante, pois tomar melatonina durante o dia/manhã pode impactar os ritmos circadianos, aumentando o risco de sonolência pela manhã.
Se fossemos copiar o estudo em humanos, seriam 10 mg de melatonina de libertação imediata algumas horas antes de dormir.
No entanto, os estudos com roedores indicam que doses mais altas funcionam melhor. Se fossemos “imitar” o que o primeiro estudo com roedores fez (que reduziu o crescimento em 68,1%), precisaríamos de tomar 1,186 mg/ kgs de peso corporal. Assim, se pesas 60 kg, precisarias tomar cerca de 71 mg de melatonina por noite. Esta é definitivamente uma “dose alta”, mas é semelhante às doses que algumas pessoas estão a usar em tratamentos de cancro. Este tipo de dose precisaria definitivamente ser discutido com teu médico, pois é “experimental”, mas a maioria das pessoas pode tolerá-lo bem se for aumentando lentamente, isto é, começar com algo como 1 ou 5 mg por noite e, a cada semana, aumentar um pouco a dose e monitorizar como te sentes. O efeito colateral mais comum seria torpor pela manhã. Se estiveres a tentar engravidar, uma dose muito alta pode interferir. Novamente, esta dose é incomum na suplementação, mas os estudos mostram que os efeitos colaterais tendem a ser leves. Alternativamente, podes escolher uma dose entre a usada no estudo em humanos e essa dose alta (ou seja, entre 10 e 70 mg).
Isenção de responsabilidade: este artigo não serve de aconselhamento médico. Tudo nesta página é para uso informativo e serve para ser discutido com o teu médico.
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