Um dia estava de férias de verão, na minha adolescência, e sinto uma dor nas pernas que achei altamente estranha, mas não liguei muito, tinha dormido no sofá de uma amiga, a seguir a uma noitada e achava que era o corpo a ressentir-se de algum mau jeito. O dia seguinte foi passado na praia e a dor foi diminuindo. Mas a partir desse dia, outras dores começaram a surgir no meu corpo. Essas dores nas pernas eram estranhas, pois não era bem uma dor, nem dormência, eram algo que não conseguia explicar e que ocorria maioritariamente durante a noite. Depois começaram a vir umas dores no meu braço, partiam do ombro direito e percorriam todo o meu braço direito. Umas dores excruciantes. A partir desse ponto, o meu diafragma começou a controlar minha vida. Provocou-me sentimentos de muita confusão, vários diagnósticos errados e algumas experiências com terapias alternativas, antes de conseguir descobrir o que estava errado!
Fui oficialmente diagnosticada com endometriose no diafragma durante a minha primeira consulta com um especialista em endometriose, depois de ter sido diagnosticada com endometriose pélvica umas semanas antes no hospital, onde tinha dado entrada de urgência com uma infecção pélvica.
Como todo o meu diagnóstico de endometriose veio como um choque, esta informação específica não se teria destacado particularmente alarmante, não fosse o médico ter-me dito que era uma vertente rara de endometriose.
Conduzir a minha própria pesquisa sobre este tópico após o diagnostico foi uma verdadeira surpresa, pois percebi que todos os sintomas e dores que havia sentido durante anos, começavam todos a encaixar-se e finalmente a fazer algum sentido. Fiquei a perceber que a dor nos ombros / costas / pescoço causada pelo endometriose diafragmática é, na verdade, uma dor causada pela irritação do nervo frénico.
O diafragma é músculo esquelético localizado abaixo dos pulmões. Desempenha um papel crucial em facilitar a inspiração e expiração dos pulmões (respiração) e na separação da cavidade torácica (que contém o coração e os pulmões) da cavidade abdominal (que contém o estômago, o fígado, etc.)
Para mim, os meus sintomas da endometriose no diafragma representavam uma parte significativa da minha dor do quadro da endometriose.
Como disse anteriormente, inicialmente, comecei por sentir uma dor na ponta do ombro direito, estava a frequentar a faculdade, devia ser o ano de 2003. Essa dor tornava muito difícil mover o meu braço direito. Nessa altura eu morava na margem sul do Tejo e conduzia até Lisboa para a faculdade. Muitas vezes só conduzia com o braço esquerdo, pois era-me muito difícil mexer o braço direito, parecia que tinha estado a treinar dias a fio com pesos. Depois arranjava outras maneiras de me defender dessas dores: levava a mala no ombro esquerdo e comprei uma mochila para levar o meu computador às costas. A minha vida passou a ser gerida à volta do que podia fazer para facilitar as minhas dores.
Com o tempo, a dor espalhou-se pelas minhas costelas, pescoço e braço, e tornou-se uma característica diária da minha vida.
Grande parte dessa dor parecia-me muscular, como uma dor ardente profunda e por isso comecei a fazer massagens frequentes, que me aliviavam um pouco no tempo imediatamente após a massagem, pois estava convencida de que tinha muitos nódulos musculares que voltavam sempre a contrair.
Quando os meus sintomas se intensificavam, respirar era muito difícil e era algo em que eu precisava de me concentrar, pois nem rir eu conseguia. Não bastava a preocupação de não saber o que tinha para me tirar muito da minha vitalidade, como a própria dor me impedia de sentir alegria.
Também não conseguia dormir deitada e tinha que me apoiar em algumas almofadas e dormir quase sentada ou dormir no sofá sentada. Ou seja a fadiga acumulava-se também a cada dia.
É uma experiência bastante agonizante e foi uma época realmente perturbadora.
Experimentei acunpuctura durante um ano, que não me ajudou em nada e até os terapeutas estranhavam. Acredito que ajudou a este resultado o não ter o diagnostico correcto, e por isso o tratamento também não estava a ser bem direcionado pois o que eu sabia era que me doía o ombro.
Ter o braço direito incapacitado em intervalos regulares, mas aleatórios, tornava muito difícil ter uma vida "normal". Os surtos graves costumavam durar várias semanas seguidas e significavam que eu mal podia conduzir, trabalhar no computador, cozinhar, fazer exercício...
Foi nessa época, ao mesmo tempo que me comecei a interessar mais na vertente espiritual da vida. Comecei a interessar-me por meditações, tinha a minha irmã muito interessada nesses temas também e em família discutíamos muito esses temas.
Descobri com o passar do tempo que as minhas dores, respondiam bem à medicação anti-inflamatória e ao calor. Mas teve o lado negativo de não ser capaz de ter um dia sem anti-inflamatórios que a pouco e pouco comecei a ter de aumentar a sua dosagem pois iam começando a não fazer efeito. Sabia que aquilo ia acabar por ter outros efeitos nocivos. E tinha de arranjar uma maneira de encontrar outras soluções.
Finalmente em 2018, com o meu diagnóstico de endometriose estabelecido, comecei a investigar o que as medicinas complementares e terapias alternativas podiam fazer por mim. A primeira coisa que tentei foi a mudança na minha alimentação com a ajuda de uma nutricionista e quase não acreditei quando logo no meu 1º ciclo após a nova dieta alimentar as dores diminuíram para quase nada. Foi um momento de muita muita alegria na minha vida. Acreditei que a partir dali a minha vida ia finalmente voltar a ser uma vida saudável.
E hoje, após implementar algumas prácticas na minha vida (todas aquelas de que vou vou falando), as minhas dores quase que não existem. Sim, há dias que ainda voltam, mas a sua intensidade é incomparavelmente menor assim como a sua cadência ou persistência.
O novo estilo de vida mais saudável compensa, e agora tudo só pode melhorar.
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